sexta-feira, 29 de julho de 2011

AS VIDAS,AS VOLTAS



As vidas, as voltas

Parece o parque, a roda gigante
Subidas e descidas rápidas,
Tudo ficando para trás e voltando, voltando
Quanto mais se anda mais se volta
Vida torta, vida volta
As voltas da vida e você na porta
É tudo igual e diferente e quem se importa
A vida não volta, a casa está morta
Quanto mais se anda mais se volta
E já se andou metade da rota
A vida não volta e quem se importa
E você anda, anda e a sua chegada
É sempre uma volta, você retorna
E tudo é exaustão, na imensidão sem volta
Você não quer parar, tem medo de morrer
Lá está você a correr, correr
Sem direção, sem perdão
A vida não volta, a casa está morta
Mas sua alma vive todas as vidas por viver
Veemente, voraz, valente
Como se pudesse vencer das vidas, as voltas.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

INSONDÁVEL


INSONDÁVEL
Não gosto de estar desabrigada
Quero que você seja meu guarda chuva
Meu protetor solar
Minhas asas
Meus desejos
Afaste os lampejos dessa dura melancolia
Que nem a roda da vida alivia
Quero teu ombro para chorar
E tuas mãos para me guiar pelo parque de diversões
Porque a vida é contraditória
É ilusória
E não fui eu quem quis assim
Se hoje você corre com a brisa marítima batendo no rosto
O amanhã pode ser o oposto
Se por hora pareces um porto
O abandono também navega essas águas
Não deixe de empinar sua pipa
Enquanto o vento estiver favorável
O mistério da vida é insondável

domingo, 17 de julho de 2011

LEVA-ME DE LEVE

Leva-me de leve

A leve tristeza que me invade não é leveza.
O leve torpor que sinto não é como um sentir leve.
É como não querer pesar, como um pedido de leva-me, de leve.
Sem pesar leve, leve sem pensar, leva-me levemente.

Porque estou cansada, porque não desejo sentir-me pesada, demasiado acordada.
Melhor estar meio sonolenta, um pouco desatenta, levianamente indiferente.
O que é que pesa na idade? O peso dos anos, dos danos?
Pesa constatar, aceitar ou pesa pensar?

Vida correnteza leva-me de roldão, sem intenção, leve apenas.
Pois as penas, os pesares, os pensamentos impedem a renovação.
Passam as águas, os prantos, os tantos líquidos.
Para ser levado é preciso abandonar-se, é preciso que, de leve, a vida lave.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

POR ISSO ESCREVO


POR ISSO ESCREVO

Vozes que não querem calar
Há as que celebram, as que clamam por justiça
As incessantes indagações, intermináveis diálogos internos
Tantas pessoas vivem dentro de mim
Que por vezes não sei se quem almoça e janta
É a mesma que planta essa inquietação em meu peito
Que o tempo só faz aumentar
Por isso escrevo, escrevo
Para me escutar
Para calar as vozes
Ou dar corpo ao que me escapa
Extravasa por todos os meus poros
Por isso escrevo, escrevo
Para respirar, escutar e silenciar
Tantas vozes que não me querem abandonar
Por isso escrevo, escrevo
Enquanto não enlouqueço
Enquanto não morro.

domingo, 10 de julho de 2011

Para tirar os pés do chão


Para tirar os pés do chão

Meus pés, passos, o compasso da minha vida
Por que não posso caminhar?
Espinhos, caminhos, pegadas no chão
Pés plantados, árvores.

Estrelas não têm raízes
Não pisam, passam
Traçando itinerários cósmicos
Em sua dança celestial, infinita

Ao ver o astro, não acredite na visão
Ele está há milhões, bilhões de anos luz
De seus olhos, de sua compreensão

Meus pés, o chão, o pão, o hoje
O futuro, a estrela do meu coração
O consolo possível na imaginação

Quero ser alpinista, maratonista, bailarina
Navegadora, trapezista, artista, malabarista
Quanto talento será preciso
Para tirar os pés do chão?

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A terra toda


A terra toda
Porque sou mulher, incontáveis mulheres são em mim.
Toda mulher é estrela a brilhar na imensidão silenciosa da alma.
Toda mulher é eclipse a ocultar astros luminosos de paixão e fulgor.

Toda tristeza é mulher a derramar orvalho nas plantas.
Toda mulher é primavera ofertando flor e fruto.
Toda casa é mulher. Toda mulher é morada.

Toda mulher é Cristo a perdoar esquecimentos num último suspiro de compaixão.
Toda mulher é vulcão a lançar erupções de ferimentos e revoltas.
Toda mulher é única. Uma única mulher é a terra toda.