segunda-feira, 21 de novembro de 2011

ABRIR A JANELA



ABRIR A JANELA

A noite não é menos bela
Porque você tem más lembranças
As estrelas não deixam de brilhar
Enquanto você tem medo de sonhar
Não é porque você insiste em sofrer
Que o mundo vai acabar
Aprenda: viver é manejar malabares
Equilíbrio e contorcionismo
É estar à beira do abismo
E dar asas a imaginação
Saber-se na corda bamba
Entender que a vida é uma arte
A do possível
Perdoar-se pelas escolhas que não pôde fazer
Pela sabedoria que não possuía
Pelos erros, enganos
E planos que fugiram do controle
A noite ainda é bela
Para ver as estrelas
Basta abrir a janela

sábado, 19 de novembro de 2011

SAGRADO



SAGRADO

Meu sol planta hortênsias no jardim
Minha noite vive de versos
Almoço, janto e me espanto
A realidade é duro fardo
Encaro plantando meus pés no chão
E tendo sempre os olhos voltados para o céu
Imagino ser um véu
E sair voando azul
Fecho os olhos
Encho os pulmões de cores
E os dissabores parecem
Outros mundos
O ser verdadeiro habita
Onde, em poesia palpita,
O coração
No sagrado solo
Da plantação.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

TRANSMUTAR


TRANSMUTAR

Construo um sonho
No lugar de um velho pesadelo
Procurando inundar de forte luz
A obscura fenda
Por onde encolhido, escondido
O mau sonho trama manter meu ser ferido
Em seus ataques noturnos
Covardes, soturnos
Quero que ele ouça esse recado
Você ainda mantém preso em seus laços
Os meus passos
Detém meus avanços
Oh, escura sombra
Escuro desconhecido
Você será vencido
Por poderosas ondas de luz
Sentidos de fé e coragem
Sei até que você vai ter vontade
De chorar, desfazer-se em lágrimas
Escorrer pelas abundantes águas
Transmutar e
Não mais voltar

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O trem da vida


O trem da vida

Minha avó fazia balas de guaco e mel
Embrulhava com papéis coloridos
Eu pensava que o mundo era uma estação de trem
De bem, de vida
As pessoas gostam de filmes de ação
E veio a revolução
Descobri que armas também levam balas
De morte, morte
Muita gente não tem o que comer
Todos tem medo de morrer
Há homens que batem em mulheres
Uma mulher espancou um bebê
O toureiro põe uma linda roupa
Para matar o touro
O povo ama o toureiro
Areia e sangue derramado
Dois aviões explodiram as torres gêmeas
Um avião atirou Bin Laden no mar
Muitas pessoas têm medo de se afogar
Muitas temem os muçulmanos
Outras têm medo de negros
E algumas de homossexuais


Precisamos viver com os normais
Ouvi isso muitas e muitas vezes
Mas não entendi
Minha avó fazia balas de guaco e mel
Embrulhava com papéis coloridos
Na estação da alegria
Muito longe dos trilhos
Do trem da vida

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Como se fosse


Como se fosse

Todo mundo tem um segredo
Que nunca contou a si mesmo
E tenta não pensar
Enquanto escova os dentes
Ou quando prepara o jantar
Todos têm ilusões
Impossíveis de saciar
Enquanto tomam sorvete
Com os olhos a vagar
Todos desejam ser
Mas não são
E pedem um café
Com a fé
De que estão por descobrir
O que é mesmo
Que estão a procurar
Ainda que não saibam como
Como se fosse sorvete
Como se fosse café