terça-feira, 30 de agosto de 2011

Ela canta na igreja


Ela canta na igreja

Cheiro de incenso, anjos do barroco,
Ogiva, céu, espetáculo de fé.
Transcendia, expandia, fugia minha alma.
Minha mãe cantava na igreja e era bela.


Mulheres, brancos véus,
O órgão, o coro, as gravuras,
Sofria, sangrava, suava o filho de Deus.
Minha mãe cantava na igreja e era tão bela.

Passaram-se anos, vidas tristezas,
Vieram às dúvidas, as mágoas, as chagas.
Minha mãe cantava na igreja.
Minha mãe, só, cantava na igreja e era cada vez mais bela.


Hoje quando entro em uma igreja,
As imagens, os sons, tudo me lembra ela.
Minha mãe canta na igreja.
E só eu posso escutar.




segunda-feira, 29 de agosto de 2011

COMPLETAMENTE SER


COMPLETAMENTE SER


Noite de lua
Alma nua
Um corpo flutua
Em busca de estrelas
Sonhos cósmicos
Realidade onírica
Vigília de ilusão
Paixão sem corpo ou realidade
Saudade de outras paragens
Planetas distantes
Pensamentos conflitantes
Coração dividido
Quisera abandonar o corpo
O porto, a crueza de amanhecer
O cotidiano, o desengano
O automático ter e fazer
O eterno esforço por pertencer
E completamente SER

domingo, 28 de agosto de 2011

EXISTIR, EXPIRAR


Existir, expirar

Faz frio, minha alma acorrentada sente preguiça
Você me escraviza, tenho medo de morrer
Não sou pássaro de gaiola, você não consegue ver
Não sou sua, não sou daqui
Vim do espaço, devo ter caído desatenta
Meu corpo pesa, a força da gravidade me encerra
Não posso voar, o azul do céu me chama
Sem forças, caio abatida
Não suporto minhas feridas.
Não quero água, não quero pão
Nem casa, nem pátria ou chão
Não quero que me leves pela mão
Quero ser carregada pelo vento
Sem tempo de voltar
Sem hoje ou amanhã
Ser somente, sentir, respirar
Ver e gostar
E quando for meu tempo
Expirar

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

CRISTAL


Cristal

Fragmentos de momentos aprisionados no cristal
Rosácea, laranja, violeta, lentas e sofridas fusões.
O que brilha é o que tortura, exuberante loucura.
Diferentes formas cintilam e circulam sob o efeito da luz.

Lindo e cortante oscila no cordão de prata.
Tal como faca a estilhaçar gelada a rocha da solidão.
È vidro, lume, luminosidade, celeste claridade.
Encontro de adversidades, superação de rivalidades, ontológica união.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

SE VOCÊ QUISER SABER DE MIM


SE VOCÊ QUISER SABER DE MIM

Não me venha com essa de terminar a tarefa
A história da gente não tem começo, meio e fim
Para você eu não sigo a lógica, mas eu sempre senti assim
Eu não apareço em seu dicionário e meu discurso não precisa de análise
Não venha me socar Freud goela abaixo
Porque não é assim que me acho, não é assim que eu me acho.
Se você quiser mesmo saber de mim
Esqueça os livros na prateleira
Uma história verdadeira não cabe em teoria
Porque não é assim que me acho, não é assim que eu me acho.
Não tente me fazer diferente
Porque não é assim que a gente sente, não é assim que a gente sente.
A realidade é um engodo e a fantasia sempre tem mais alegria
Quem acredita no que vê, não viu tudo
Porque nem tudo é de se ver, nem tudo é para ver.
Se tomo remédios, é só para esquecer
Que tudo estava assim mesmo antes da gente nascer
Muito antes de a gente nascer.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011


NENHUMA RESPOSTA
O que seria uma montanha sem sua história encravada em pedras?
Que faria um pássaro se não pudesse cantar?
Que sensação passa um violino sem cordas esquecido em um móvel qualquer?
Que som emitiria um cisne vendo suas asas feridas refletidas no lago?
Um condor no mais alto penhasco sem poder voar?
Para que serviriam os olhos se não pudessem chorar?
Os lábios se não pudessem sorrir.
O que é feito do amor que sentimos quando não podemos ofertar
Que sentido teria meu viver se eu não escrevesse?
Por que toda grandeza, toda beleza é sustentada pelas mais frágeis debilidades?

quarta-feira, 10 de agosto de 2011


A CAVALGADA DA LUA

A marcha da vida
Cavalgada da lua
Tropel de cavalos
Enfeitiçados pela claridade
Enganados pela aparente proximidade
Do objeto de desejo
Inexplicável instinto
O suor no pelo molhado
Adrenalina, atração
Conspiração de forças da natureza
Beleza em estado bruto
Cavaleiros em noite de lua cheia
Em busca da alma perdida
Da força da vida, da natureza plena